Se construísse-mos uma escala cromática (escala que evolui de meio em meio tom) de Dó a Dó, póderiamos observar:
(Armação usando sustenidos – #)
C, C#, D, D#, E, F, F#, G, G#, A, A#, B, C
C, C#, D, D#, E, F, F#, G, G#, A, A#, B, C
(Armação usando bemóis – b)
C, Db, D, Eb, E, F, Gb, G, Ab, A, Bb, B, C
C, Db, D, Eb, E, F, Gb, G, Ab, A, Bb, B, C
Se você contar o número de tons de Dó a Dó encontraria 6 tons. Trítono é o intervalo entre duas notas separadas por 3 tons, ou seja, você dividiu a escala ao meio.
As nota encontrada na escala cromática em sustenido foi o F#, e nota encontrada na escala formada por bemol foi o Gb.
Vejam agora a escala de Dó maior e seus respectivos graus:
T, 9, 3, 4, 5, 6, 7M, 8
C, D, E, F, G, A, B, C
C, D, E, F, G, A, B, C
Estas duas notas, dentro da escala diatônica de Dó formam um intervalo de quarta aumentada (F#) ou quinta diminuta (b5). A escolha do nome do intervalo depende do contexto harmônico.
Em resumo, o trítono está entre a nota C e F# ou entre C e Gb.
Que efeito produz o trítono?
O trítono provoca uma tensão muito forte, pois se a escala é dividida ao meio. Por causa disso, o trítono também provoca uma preparação.
Mas em qual acorde eu poderia usar o trítono?
O trítono existe nos acordes de categoria “dominante. O trítono está entre a 3ª e a 7ª menor deste acorde dominante.
Também existe trítono nos acordes diminutos, só que estes acordes tem dois trítonos. Um entre a tônica e a quinta diminuta e outro entre a terça menor e a sétima diminuta (bb7).
Vamos pegar como exemplo os graus do campo harmônico de Dó pra observar os trítonos. Estou usando o Campo Harmônico de Dó apenas por não conter acidentes. É importante observar em outras tonalidades.
Campo Harmônico de D´Maior em tétrades (acordes formado por 4 ou mais notas):
C7M, Dm7, Em7, F7M, G7, Am7, Bm7(b5)
Os acordes da categoria dominante deste Campo Harmônico são o Vº e o VIIº grau, respectivamente G7 e Bm7(b5).
No acorde G7 o trítono está entre a terça (Si) e a sétima menor (Fá). Veja que de Si para Fá temos 3 tons inteiros.
No acorde Bm7(b5) o trítono está entre a tônica (Si) e a quinta diminuta (Fá).
Se você pegar um acorde G7(9) e observar a sua formação, verá que tem as mesma notas e o mesmo trítono na sua formação:
G7(9) –> G(T), B(3), D(5), F(7), A(9)
Bm7(b5) –> B(T), D(b3), F(b5), A(7)
Isso sugere substituições de acordes.
Nos acordes diminutos, que não é o caso do Bm7(b5) por conter sétima menor e não sétima diminuta, existem dois trítonos.
Bdim ou Bº –> B(T), D(b3), F(b5), Ab(bb7)
bb7 = sétima diminuta
Veja que o trítono está entre o B e o F, e o outro trítono está entre o D e o Ab.
Resolução dos Trítonos:
O trítono no acorde G7, Bm7(b5) e no Bdim tem sua resolução no acorde que exerce a função de Tônica, ou seja, no Iº grau –> Dó maior
Progressões:
| G7 | C7M |
| G7 | C |
| Bm7(b5) | C7M |
| Bm7(b5) | C |
| G7 Bm7(b5) | C |
| G7 | Cm |
| Bdim | C |
| Bdim | Cm |
Experimente todas estas resoluções, ou preparações.
Trítonos Gêmeos
Se dentro de um acorde G7 existe um trítono entre a terça maior (B) e a sétima menor (F),
O que poderia acontecer se invertêsse-mos o trítono de B para F, e transformasse de F para B ?
Pra começar, teríamos os mesmos 3 tons para cada lado. Ou seja, até aqui não mudou nada significativo.
Agora se eu encarasse sobre esta inversão o F como terça maior e o B como sétima menor?
Bom, agora teríamos um outro acorde (que não pertence ao Campo Harmônico de Dó) com o mesmo trítono.
O acorde que teria o trítono gêmeos é o Db7.
O Fá é a sua terça maior e o Si é a sétima menor.
O acorde Db7 pode substituir o G7 por conter o mesmo trítono, só que invertido.
É comum vermos progressões que tenha um Db7 preparando um C
Neste caso, o acorde Db7 entraria pra uma função de “substituto do dominante”, também conhecido como SubV7, pois substitui o V7º grau.
Observem em finais de blues este exemplo usando um Db7 preparando um C7:
e—-4—–3——————————————–
B—-6—–5————————–4—–3———
G—-4—–3—– ou – com 9ª –4—–3———
D—-6—–5————————–3—–2———
A—-4—–3————————–4—–3———
E——————————————————–
B—-6—–5————————–4—–3———
G—-4—–3—– ou – com 9ª –4—–3———
D—-6—–5————————–3—–2———
A—-4—–3————————–4—–3———
E——————————————————–
É, tem até o famoso trítono usado muito em rock, com bends de meiotom.
O trítono está no acorde de Ré passando pra Lá maior:
O trítono está no acorde de Ré passando pra Lá maior:
e——8b–8b——–5———————————-
B——7b–7b——-5———————————-
G———————-2———————————-
D———————————————————-
A——–Ré——–Lá———————————-
E———————————————————
b = bend
B——7b–7b——-5———————————-
G———————-2———————————-
D———————————————————-
A——–Ré——–Lá———————————-
E———————————————————
b = bend
Outro lick legal pra usar em rock. Uma passagem de G7 para C. No final aparece um trítono entre E e Bb, estas são trítonos de Dó. Dê uma vibrade de leve sobre este trítono e depois deixe soar.
e——————————7~~~——8————————————
B—————–3-5-6—–6~~~——-8————————————
G————4——————————9———3-deixe soar———-
D—-2/3———————————————-2~~~~~~~~~~~—-
A———————————————————————————-
E—-Sol (trítonos)——————–Dó——-trítono de Dó———-
B—————–3-5-6—–6~~~——-8————————————
G————4——————————9———3-deixe soar———-
D—-2/3———————————————-2~~~~~~~~~~~—-
A———————————————————————————-
E—-Sol (trítonos)——————–Dó——-trítono de Dó———-
No Blues
É muito comum no blues usar acordes dominantes, ou seja, acordes com sétimas menores. Aproveitando isso, o blues usa o trítono de uma forma muito inteligente e vale a pena observar. Vamos fazer uma progressão em C7, F7, G7… o famoso blues I7, IV7, V7.
Vou usar os trítonos de:
C7 –> Bb(7) e E(3)
F7 –> A(3) e Eb(7)
G7 –> B(3) e F(7)
Observe na tablatura que o F7 e o G7 estão distantes de Dó por apenas meio tom, usando o mesmo desenho e na mesma corda. Pra mim isso é fantástico e abre um leque de possibilidades harmônicas e melódicas.
Vejam:
e——————————————————
B——————————————————
G—9———8——-9——-10——9———–
D—8———7——-8——–9——-8———–
A——————————————————
E–C7——F7—–C7——G7—–C7———-
B——————————————————
G—9———8——-9——-10——9———–
D—8———7——-8——–9——-8———–
A——————————————————
E–C7——F7—–C7——G7—–C7———-
Trítono e Modulação
A parte mais legal do trítono é quando ela abre passagem pra outros tons ou só sair um pouco do tom (coisa que o campo harmônico acaba impondo nas composições).
O trítono é como uma porta de entrada e saída pra outros acordes.
O mais natural numa música que está no tom de Dó é aparecer o acorde de Ré menor e Lá menor e não Ré maior e Lá maior. O trítono quebra essa barreira.
Se o trítono é encontrado nos acordes dominantes, e o principal dominante corresponde ao Vº grau, então podemos desencadear um processo de “dominantes secundários”.
Após o Dó surgirá um A7, que por sua vez vai preparar para um D7, e este um G7 e depois prepara para Dó novamente, criando um círculo harmônico.
| C | A7 | D7 | G7 | C |
A escala mais óbvia pra se solar sobre os acordes com trítono é o mixolídio.
Trítonos Gêmeos e o Blues
Como pode ser visto no assunto anterior sobre trítonos gêmeos, o acorde que tem o mesmo trítono, só que invertido é o #IVº ou bVº graus. Ou seja, o mesmo trítono que forma o G7 forma também o Db7. E como um pode substituir o outro (dependendo do momento é claro), podems fazer o mesmo pelos outros dominantes, usando os dominantes secudários junto com os substituto do dominante (SubV7).
O mais interessante é que o SubV7 fica apenas meio-tom acima do acorde que va resolver. Por exemplo, o mesmo G7 e Db7 (os dois são equivalentes) que prepara o Dó, temo Db7 que está só meio-tom acima de C, que é o acorde de resolução.
Então, se num clichê de blues (I, IV, V) eu aplicar os SubV7′s de cada um, eu teria mais 3 acordes, ficando com 6 no total.
Um blues de 12 compassos:
||: C7 | F7 | C7 | C7 C7 C7 Gb7 | F7 | F7 |
| C7 | C7 C7 C7 Ab7 | G7 Gb7 | F7 | C7 | G7 G7 G7 Db7
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